
O fim da vida: morte e luto
A morte é considerada a finalização de um ciclo, o fim de tudo. Mas a discussão sobre o que ela é e como ela acontece ainda é considerado um assunto delicado, e muitas vezes até evitado pela maioria das pessoas. O facto de sabermos que ninguém escapará à morte, é o que a torna um assunto tão fascinante e ao mesmo tempo angustiante, pois ela não pode ser evitada. A ciência procura há séculos maneiras de retardá-la e até mesmo suplantá-la, através dos seus medicamentos e suas pesquisas, obtendo êxito em algumas áreas. O facto é que a vida e a morte são assuntos complexos e que sugerem discussões polêmicas e acaloradas.
Pensando na morte como algo mais profundo, Chevalier, designa-a como o fim absoluto de qualquer coisa. Enquanto símbolo, a morte é considerada o aspecto perecível e destrutivo da existência, indicando aquilo que desaparece na evolução das coisas. No entanto, ela é ao mesmo tempo revelação e introdução, pois todas iniciações atravessam uma fase de morte, antes de acessar uma vida nova. Portanto, a morte tem um valor psicológico que liberta das forças negativas e regressivas, tornando possível à ascensão do espírito. Ela é considerada filha da noite e irmã do sono, tendo o poder de regenerar, ela é, enfim a condição para o progresso e para a vida.
A morte então está relacionada a tudo aquilo que nos cerca, nos fazendo pensar que não somos eternos, que não somos donos de nossa própria vida, tendo que obedecer ao ciclo natural da vida, ou seja, tudo que é vivo um dia morrerá. A morte também nos remete à doença e ao sofrimento, isto é, pensar na morte muitas vezes está associado ao fato de que essa será sofrida, dolorosa, e muitas vezes em decorrência de uma doença grave. A morte também sinaliza o fim de uma etapa, para o início de outra, como o fim da infância e o início da adolescência, por exemplo.
Esses sentimentos mobilizados pela perda como morte, são possíveis por causa do processo de luto e sua elaboração. Freud, define o luto como uma reação à perda de um querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar desse alguém querido, desánimo profundo, falta de interesse pelo mundo externo e perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor. Ou seja, o objeto amado não existe mais, o que exige que a libido seja desviada para outro objeto, o que causa grande desagrado. Quando finalmente o trabalho do luto termina, o ego está novamente livre e desinibido.
Ainda sobre o luto, convém citar a contribuição da teoria do vínculo de Bowlby de 1985, que descreveu este processo como sendo um conjunto de reacções diante de uma perda, possuindo então quatro fases a serem descritas:
a) Entorpecimento: é a primeira reacção, com choque e descrença, durando de horas a dias, havendo crises de raiva e choro. È comum à presença de distúrbios somáticos e a negação da perda podem estar presentes como forma de defesa;
b) Anseio e protesto: emoções fortes, sofrimento e agitação física. Há um desejo de encontrar-se com o morto com crises de profunda dor e choro;
c) Desespero: reconhecimento da imutabilidade da perda, havendo grande risco de apatia e depressão com afastamento do meio social e das actividades, persistindo os distúrbios somáticos;
d) Recuperação e restituição: sentimentos positivos e menos devastadores, permitindo uma aceitação e o retorno da independência e iniciativa.